Foi em 2022 que recebi, com entusiasmo, o convite para fazer parte da TV Sucesso. Três anos se passaram — intensos, marcantes e repletos de crescimento.
Entrei como co-apresentador do programa A Nossa Hora, ao lado da incrível Lilly da Conceição. Formámos uma dupla que marcou as tardes, levando ao público debates quentes sobre fé, casamento e sociedade.
Depois, transitei para a redação. Acompanhei reportagens, participei timidamente no Jornal Principal, sob a liderança da diretora Celma Martins e do chefe Mapote. Também estive no programa Quarta Bancada, onde discutíamos política. Foi aí que passei a lidar com figuras como Feliz Silvia, Chalaua e Muhamad Yassin — nomes que antes só ouvia nas notícias.
Trabalhei no 6 às 9 com a super profissional Berta Muiambo. Nunca me esquecerei da frase: "Clemente, podes ir começar", enquanto ela se preparava para entrar no ar com toda a classe.
Mesmo Casos do Dia, que inicialmente parecia não ser minha praia, acabou conquistando-me. A TV Sucesso foi uma escola onde aprendi o rigor da pergunta bem feita, onde meu potencial foi valorizado.
Depois veio um novo desafio, proposto pelo PCA, tio Gabito: Cidadão Repórter. Gabriel Júnior sabe fazer televisão. Ele entende o que o povo quer ver e ouvir — pena que em Moçambique, querer nem sempre é poder.
De volta ao 6 às 9, agora sob comando do chefe Vanito Romeu — um homem íntegro, um amigo. Ali cresci mais uma vez. Entrevistar figuras como Alexandre Jorge Mano, da FRELIMO, com quem mantemos respeito apesar das diferenças, ou a minha querida amiga Quitéria Guirengane, foi um privilégio.
A minha jornada na Sucesso foi marcada por aprendizagem e resiliência. Em 2022, antes de entrar na televisão, já lutava — lembro da marcha contra as portagens, inspirado no Professor Adriano Nuvunga. Agora, em 2025, deixo a TV com uma nova marcha marcada para este sábado, 19 de abril, contra os assassinatos que estão a devastar o nosso povo.
Sei que muitos fingem não entender o que digo, preferem a ilusão de uma democracia que não existe. Esta quinta-feira, o relatório da Amnistia Internacional confirmou: há uso sistemático de munições letais contra manifestantes em Moçambique.
Sim, reconheço que muitas vezes ultrapassei a linha entre jornalismo e ativismo. Mas num país como o nosso, há dois tipos de “loucos”: o que vê a polícia matar e se cala, e o que não consegue calar mesmo sabendo que isso pode custar-lhe tudo.
Eu sou o segundo. Aquele que fala, protesta, denuncia. Fui às ruas na morte do Azagaia, na subida dos preços, na fraude eleitoral, na morte do Elvino. Muitas vezes, o jornalismo ficou em segundo plano — e eu não me arrependo.
Por isso, decidi seguir o meu verdadeiro chamado: ser a voz dos que não têm voz, lutar por um Moçambique mais justo. Dizer ao corrupto: basta. Dizer aos esquadrões da morte: chega. Pedir aos governantes: sejam honestos.
Infelizmente, não posso fazer isso e continuar a ser jornalista. Ninguém me despediu — fui eu, aos 36 anos, que decidi sair. Porque não faz sentido continuarmos a viver com medo de um sistema autoritário enquanto o povo morre.
Submeti minha carta com sentimento de gratidão. Isso é um protesto. Quando perguntam "vais viver de quê?", isso é um protesto. Quando dizem "a polícia mata", isso é um protesto. Quando avisam "vão te matar", isso é um protesto.
Acham que os jovens de 74/75 não tinham família? Tinham, sim. Mas lutaram por todos. Nós hoje marchamos por 30 milhões de moçambicanos.
Se nós, os precursores, não chegarmos lá, marchem, jovens.
MANIFESTAÇÃO PACÍFICA NÃO É:
1. Roubar
2. Matar
3. Queimar
4. Destruir (respeite o suor alheio)
5. Furtar (vai trabalhar, cara!)
6. Discriminar (respeite as diferenças)
7. Enganar (ninguém é obrigado a proclamar partido)
8. Corromper
9. Agredir (manifestar não é agredir)
10. Danificar propriedade (lojas, carros, etc)
MANIFESTAÇÃO PACÍFICA É:
Juntar-se, levantar a voz e gritar BASTA.
Só a consciência coletiva e a constância podem mudar o rumo dos acontecimentos.
A LUTA CONTINUA.

